R.I.P. Richard Donner
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R.I.P. Richard Donner

O cara que nos fez acreditar que um homem podia mesmo voar!

Na madrugada do dia 06 para 07 de julho, eu estava terminando as últimas linhas de revisão do posfácio de A Casa das 100 Janelas e nem vi o tempo passar. Bati os olhos no reloginho do computador e achei que duas da manhã era um bom horário para tirar o time de campo. Antes de desligar tudo, porém, passei os olhos pelas notícias e... bem... a primeira que vi apertou meu coração como se os dedos do destino espalmassem meu peito para avisar: o tempo passa com mais rapidez do que você pensa.

Rapaz! E como o tempo passou!

Ali estava a notícia de que o diretor de cinema Richard Donner havia morrido. Aconteceu no domingo, dia 5/7. E eu vi um filme passando pelos meus olhos (ou vários filmes) na velocidade com que, dizem, vamos rever toda a nossa vida quando morrermos - não interessa se eu ou você acreditamos nisso ou não. Interessa que esses rompantes de lembranças geralmente ocorrem quando percebemos que uma parte nossa (que estava ali até agora) estava meio esquecida e que isso é meio injusto, porque não poderemos mais contar com ela - a não ser através dessas memórias.

Eu era um garotinho de seis ou sete anos quando minha tia Vili me levou para ver o filme do Superman. Diferente dos filmes comuns, esse teve comercial até na televisão: É um pássaro, é um avião, é o Superman!

E o cartaz do filme nos prometia: você vai acreditar que um homem pode voar de verdade!

Guardado o efeito do tempo na maneira como a narrativa é contada (e mesmo as evoluções técnicas de efeitos especiais, movimentos de câmera e qualidade de imagem), Superman de 1978, com Christopher Reeve realmente voando na tela, é meu filme de super-herói preferido. Aqui preciso explicar que nenhum outro filme, por melhor que possa parecer, por impressionante e grandioso e criativo que se mostre, jamais vai poder superar o meu saudosismo de criança. Cara, entenda: esse filme plantou sementes de criatividade em mim!

Claro que eu não tinha noção de que o sujeito por trás do filme que me encantou era essa tal Richard Donner. Nem sabia quem era ele. Menos ainda que tinha acabado de sair de uma produção de horror que se tornaria um dos meus filmes/livros prediletos do gênero - estou falando de A Profecia, sobre o qual escrevi há algumas semanas e cujo link está AQUI.

Contudo, quando os anos 1980 vieram e eu me tornei um adolescente faminto por histórias fantásticas, esse mesmo cara acabou voltando em duas produções, do mesmo ano, que me catapultaram para a cadeira de fã apaixonado por sua maneira de construir uma narrativa. Estou falando de O Feitiço de Áquila e, óbvio, Os Goonies - esse último um filme tão importante para minha noção de adolescente apaixonado por cinema e histórias bem contadas que acabou sendo um elemento central no meu novo livro (esse de que falei mais acima: A Casa das 100 Janelas). Existe uma cena nas lembranças do personagem Chico Rezende em que ele narra uma ida ao cinema, com seus amigos, para assistir ao filme em que os garotos das Docas Goon têm que fugir de criminosos italianos e tentar descobrir o tesouro escondido pelo pirata Willy Caolho. Esse mesmo momento é revivido perto do final, quando o protagonista e a mulher por quem sempre esteve apaixonado encontram... ei, espere, não posso contar isso aqui.

O Feitiço de Áquila e Os Goonies fazem parte dos melhores filmes da minha vida, junto com Superman - os três dirigidos por esse mesmo judeu do Bronx, nascido Richard Donald Schwartzberg, que entre outros filmes foi responsável pelos quatro Máquina Mortífera, com Mel Gibson e Danny Glover. Sua produtora também colocou as mãos nos filmes dos X-Men da Fox e o próprio Donner assumiu com Geoff Johns e Adam Kubert a equipe criativa revista Action Comics, da DC - uma das publicações mais importantes da casa do Superman, Batman e Mulher Maravilha.

Incansável, estava há anos pensando numa boa história que, quem sabe, pudesse trazer os Goonies de volta. Nos últimos meses, depois de vários vai-e-vens, começou a tratar seriamente de um quinto filme Máquina Mortífera. E com o elenco original!

Infelizmente, o tempo bateu no vidro do relógio e avisou: ei, Rick, acho que não vai dar mais.

Richard Donner já deixa um aperto enorme no meu peito. É engraçado pensar que, na década de 1980, havia um grupo de realizadores de Hollywood que eram tão bons no que faziam que o impacto da morte de um deles alcança um cara às portas de completar meio século e enche os seus (meus) olhos de saudades.

Basicamente, a vida é assim. Mas há um consolo em aceitar esse adeus e entender que a obra deixada por ele estará aqui para sempre, para todas as gerações que virão - que, infelizmente, não entenderão jamais o que é ser moleque e correr para se sentar numa fileira de cinema como um bando de outros moleques para assistir a mais outro grupo de moleques embrenhando-se nas rochas de um penhasco à beira mar para encontrar um tesouro.

Até um dia, senhor Donner.

 

Jefferson Sarmento é escritor da Tramatura, autor de A Casa das 100 Janelas, Relicário da Maldade, Alice em Silêncio... e colaborador da Casa de Tramas.

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