

Relicário da Maldade
de Jefferson Sarmento
EM BREVE
Estamos em 1985. Três garotos descobrem no porão de uma velha casa um baú trancado — e, ao abri-lo, libertam algo que há muito estava contido: a maldade adormecida de uma cidade inteira. A partir daí, segredos vêm à tona, pessoas mudam... e a realidade nunca mais será a mesma.
Relicário da Maldade é uma história sobre culpa, inocência corrompida e o lado sombrio que todos tentamos esconder. Jefferson Sarmento recria com maestria o clima dos anos 1980 para nos levar a uma jornada de horrores íntimos e coletivos.
A nova edição da Tramatura chega com projeto gráfico renovado — para leitores que gostam de histórias sombrias, nostálgicas e inquietantes.
RELICÁRIO DA MALDADE
de Jefferson Sarmento
Uma viagem alucinante aos anos 1980 numa história de terror que resgata a música, o cinema, a literatura... toda a cultura pop de uma década única!
A senhora Augusta Dummont acabou falecendo aos setenta e oito anos. Simplesmente desabou sobre as pernas naquele fim de 1985. Deixou para trás seu velho sobrado e o respeito incondicional dos habitantes da pequena Cidade, mas também um segredo nefasto, guardado num baú de horrores escondido em seu porão. Desavisados e curiosos, os três garotos da rua Dez acabam libertando toda a maldade que a velha havia trancafiado no cômodo secreto debaixo de sua casa, trazendo de volta do Relicário da Maldade o pior dos habitantes simplórios e caricatos do pequeno lugarejo.
Ambientado no meio dos anos 1980, Relicário da Maldade é uma homenagem aos livros, filmes, músicas e todo tipo de histórias fantásticas que moldaram a adolescência daquela década.
Do frescor do rock nacional tocado nas rádios, gravados em fitas cassete quando o locutor parava de falar, às sessões de cinema com monstros pegajosos, alienígenas flutuando em bicicletas na frente da lua ou livros em que animais mortos reviviam ao serem enterrados em cemitérios indígenas. Vamos, não tenha medo. Não ainda. Vire logo a primeira página e desça até aquele porão para olhar bem lá dentro do baú.
FICHA TÉCNICA
_________________________
Páginas: 264
Formato: 16 x 23 cm
Peso: 400g
Acabamento: brochura
Papel: Pólen 80
ISBN: 9786585657365
Selo: Tramatura


No porão do sobrado
Ainda se espremendo contra a parede, Daniel viu o enorme verme cheio de dentes se erguer acima das pernas de Júlio, preparando o bote. A criatura abria aquela boca que antes parecia pequena e perigosa, mas agora era enorme e infinitamente ameaçadora. Se mordesse a perna do garoto gritando no chão, arrancaria um naco do tamanho de um bolo de carne. Daniel fez uma careta, soltou um urro e fez a coisa mais estúpida que veio à sua mente: correu para o verme. Saltou para ele antes do bote agarrou-o bem abaixo daquela cabeça lisa e sem olhos.
O atropelamento
Ouviu um grito. Isso o tirou do transe. Ou, pelo menos, começou a fazer a roda da realidade girar outra vez. Ouviu uma espécie de tossida engasgada. Era uma ranhetice fanha que fazia o capô tremer bem diante de seus olhos. Não percebeu de fato o que estava acontecendo: que o motorista estava ligando ou tentando ligar o carro outra vez. Mesmo assim, tentou se afastar. Arrastou-se mais, esfregando os fundilhos nas pedras retangulares que calçavam a rua. Foi quando o carro saltou, desvencilhando-se do poste. Foi um tranco, um espasmo. Pulou para frente para alcançar os pés do garoto e...
A festa do homem morto
O Coronel conseguiu erguer a primeira delas. Mas quando a segunda garota estendeu o braço, um daqueles vermes a enrodilhou pelo pescoço e ela tombou dentro d’água. Restou a ele saltar lá dentro para tentar socorrê-la. Um daqueles bichos veio em sua direção feito uma cobra d’água. Eles meio que rugiam, sibilavam, rosnavam como gatos acuados. O velho levantou o braço e desceu o golpe com a faca suja de gordura. A lâmina arrancou parte da cabeça do verme, que serpenteou sem rumo e afundou, vazando gosma preta na água.
À beira do Tombo
... meteu a mão direita dentro do baú e arrancou de lá umas tantas fotos. Sem olhar para qualquer delas, começou a arremessá-las na água, fazendo-as girar como discos kamikazes. No terceiro punhado de fotografias, o primeiro verme finalmente alcançou a borda, espremendo-se para fora.— Matem todos! — o sujeito cantarolou de um jeito alucinado, maníaco.
Mais adiante, a Cidade perplexa se estendia feito um tapete enrugado, sem perceber que os vermes da maldade estavam voltando, todos eles ao mesmo tempo. Algumas daquelas fotos eram de pessoas que já estavam mortas — não tinham para quem retornar. Então, tudo o que podiam levar era... o caos.