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A Evolução dos Filmes de Terror nos Anos 80

  • Foto do escritor: Jefferson Sarmento
    Jefferson Sarmento
  • 29 de jun.
  • 4 min de leitura

Uma Década de Medos, Exageros e Locadoras


Nos anos 1980, o terror invadiu as casas, os shoppings e, principalmente, as locadoras. Deixou de ser um gênero escondido nas sombras das salas de cinema para se transformar em um espetáculo acessível, barulhento e inesquecível. Foi uma década marcada por monstros icônicos, trilhas sonoras eletrizantes, sangue em abundância e vilões que não apenas matavam — mas voltavam, ano após ano, para mais uma sequência.


Mas o que tornou os anos 80 tão especiais para o terror? O que fez daquela década um divisor de águas, um território onde o medo se reinventou de tantas formas diferentes?


O fim dos anos 70 e o começo da festa dos anos 80


Antes dos anos 80, o terror era mais psicológico, mais adulto. Os grandes títulos dos anos 70, como O Exorcista, O Bebê de Rosemary, Halloween e Alien, o Oitavo Passageiro, exploravam os medos humanos de uma forma mais aprofundada, falando com um público maduro, que carregava consigo as tensões políticas e sociais da época. Mas os ventos mudaram quando a nova década começou. O cinema percebeu que os adolescentes — aqueles que se aglomeravam em grupos para assistir aos filmes — eram o público ideal para consumir o terror como um evento social.


Foi nesse cenário que as locadoras de vídeo ganharam um papel fundamental. O VHS não apenas levou o terror para dentro de casa — ele permitiu que filmes pequenos, independentes ou ousados circulassem e encontrassem seu público. Muitas histórias que teriam passado despercebidas nas grandes salas de cinema floresceram nas prateleiras das locadoras. Era um espaço democrático onde o terror de baixo orçamento podia brilhar lado a lado com os grandes lançamentos.

Linda Blair em "O Exorcista"
Linda Blair em "O Exorcista"

A febre dos slashers e os vilões imortais


A primeira metade dos anos 80 foi dominada pelos slashers. O modelo era simples: jovens sendo perseguidos e eliminados por assassinos mascarados. Sexta-Feira 13 se tornou o grande símbolo dessa fase, enquanto Jason Voorhees se consolidava como um dos maiores ícones do gênero. Embora John Carpenter já tivesse apresentado Michael Myers no final da década anterior, os anos 80 abraçaram e multiplicaram a fórmula.


Esses filmes cresceram porque falavam diretamente com o público jovem. Era fácil se ver naquelas histórias. Os vilões, por sua vez, se tornaram anti-heróis carismáticos. Freddy Krueger, em A Hora do Pesadelo, levou isso a outro patamar, misturando sadismo, humor ácido e o poder de invadir sonhos. Com o passar dos anos, as franquias foram se expandindo, e a repetição cansou. O excesso de continuações acabou saturando o gênero, mas não sem antes consolidar um legado que sobrevive até hoje.

Jason Voorhees
Jason Voorhees

O corpo como palco do horror


Enquanto os slashers dominavam o início da década, uma vertente mais grotesca e fascinante surgia com força: o body horror. Filmes como O Enigma de Outro Mundo, de John Carpenter, A Mosca, de David Cronenberg, e Hellraiser, de Clive Barker, abraçaram os efeitos práticos e levaram o terror a um nível mais visceral. Aqui, o medo nascia das transformações físicas, da degradação do corpo, da mistura entre dor e prazer.


Os mestres dos efeitos práticos, como Tom Savini, Rick Baker e Stan Winston, criaram monstros que pareciam palpáveis, com textura, peso e presença. Muito antes dos efeitos digitais, esses artesãos do horror deram vida a criaturas inesquecíveis, que ainda hoje resistem ao tempo e fascinam novas gerações.


O terror pop e o lado divertido do medo


Kiefer Sutherland em "Os garotos perdidos"
Kiefer Sutherland em "Os garotos perdidos"

Nem só de sangue e vísceras viveu o terror dos anos 80. A década também abraçou o terror pop, com obras que misturavam aventura, humor e horror em doses equilibradas. Gremlins, Os Garotos Perdidos e A Volta dos Mortos-Vivos são exemplos perfeitos desse movimento. Com trilhas sonoras marcantes, estética vibrante e uma leveza que flertava com a MTV, esses filmes conquistaram o público jovem de uma forma diferente: o medo podia ser divertido, quase como uma festa.


Nesse contexto, personagens como Beetlejuice surgiram para bagunçar ainda mais as convenções, trazendo irreverência e humor escrachado para o centro das atenções. O terror pop dos anos 80 abriu espaço para misturas ousadas e pavimentou o caminho para as produções híbridas que dominariam os anos seguintes.


O culto às pérolas esquecidas


Entre os grandes sucessos e as franquias milionárias, existia um submundo ainda mais interessante: o dos filmes cult. Obras como Evil Dead, Creepshow, O Vingador Tóxico e O Monstro do Pântano desafiaram as regras e abraçaram o trash com orgulho. Essas produções, muitas vezes resgatadas pelas locadoras, se tornaram preciosidades para fãs de terror — filmes que sobreviveram ao tempo pelo boca a boca e pela ousadia de suas propostas.


Essas pérolas não precisavam de grandes orçamentos. Bastava criatividade, vontade de experimentar e, claro, um bom espaço nas prateleiras da locadora mais próxima.


Cartaz da série "Stranger things"
Cartaz da série "Stranger things"

O cansaço e o renascimento

Com o tempo, a repetição das mesmas fórmulas acabou desgastando o público. As continuações se acumulavam, e o terror começou a perder força no final da década. Mas foi justamente essa exaustão que preparou o terreno para uma reinvenção. Nos anos 90, o gênero ressurgiria com o frescor da metalinguagem, especialmente com Pânico, de Wes Craven, e com a retomada do terror psicológico.


Ainda assim, os anos 80 deixaram um legado indiscutível: os monstros da década continuam presentes na cultura pop, nos videogames, nas fantasias de Halloween e nas produções contemporâneas. Séries como Stranger Things e os constantes remakes provam que o espírito daquela época ainda pulsa com força.


O terror como estilo, não só como gênero


Mais do que um gênero cinematográfico, o terror dos anos 80 se transformou em um estilo. Uma linguagem visual e narrativa que é revisitada, homenageada e reinterpretada até hoje. Foi uma década que ensinou que o medo pode ser plural: pode ser grotesco, assustador, engraçado ou simplesmente divertido.


Stephen King foi, sem dúvida, o grande nome literário da época, com adaptações que se espalharam pelos cinemas e influenciaram toda uma geração. Mas outros autores, como Clive Barker e Peter Straub, também ajudaram a expandir as possibilidades do horror no cinema.


Os anos 80 foram uma festa sangrenta, barulhenta e irresistível. E talvez o melhor de tudo é saber que, de alguma forma, ainda estamos dançando nessa festa até hoje.


O panteão do horror dos anos 1980
O panteão do horror dos anos 1980

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