LIVROS DE SANGUE, Vol. 1: Clive Barker
- Jefferson Sarmento
- 30 de jun. de 2021
- 2 min de leitura
Horror cheio de maravilhas, visceral, sexual

A Dark Side acabou de lançar o volume 2 de Livros de Sangue, mas acalme-se...
Sente-se.
Vamos conversar um pouco, antes, sobre o primeiro livro.

Leio Livros de Sangue 1 pela segunda vez, com mais atenção e calma, com a sede humana, mundana dos monstros e demônios imaginados por Clive Barker. O escritor inglês desvirtuou o horror metódico que nos trazia fantasmas e vampiros palatáveis, de maldade em preto e branco e pasteurizada que nos divertia lá pelo começo da década de 1980. Ele simplesmente ignorou as regras e debulhou com dedos ágeis a carne do sobrenatural rotineiro. E das entranhas desse horror conhecido surgiram demônios e espíritos e outros seres que gangrenaram o roteiro comum das histórias.
A imaginação de Clive Barker é uma maravilha enlouquecedora, que brinca com a sordidez humana como uma criança descobrindo o próprio sexo. Os 6 volumes dos "Livros de sangue" abrem-se aqui com 6 contos longos, cujas histórias são apresentadas em letras cortadas na carne do falso vidente de "O livro de sangue", a primeira história, que serve como uma introdução para roda a loucura que virá a seguir - e cuja cena da adaptação estampa o cabeçalho desta nota de admiração.

Porque este texto é isso: uma nota de admiração invejosa.
Meu conto preferido desta primeira coletânea ainda é "Blues do sangue de porco", mas nesta leitura redescobri uma espécie de tara imaginativa por "Sexo, morte e luz das estrelas" - especificamente por conta da cena em que Terry Calloway delira de prazer enquanto a falecida Diane Duvall termina seu felatio antes interrompido pelo soturno Lichfield. O clímax em chamas é uma apoteose delirante!
Os seis contos revelam de cara uma mente distorcida e cheia de monstros sórdidos - construídos de pedaços de pecados e desejos sujos. Clive Barker habitou esse mundo de sujeiras extrapoladas enquanto escreveu horror. Suas histórias são nervosas, como quem assiste a um corpo aparentemente são ou levemente adoecido, cujas entranhas se revelam cheias de vermes formados por vilanias levadas ao extremo e ultrapassando os limites da sanidade.
Livros de sangue é... maravilhoso no sentido pleno da palavra.


Jefferson Sarmento é escritor da Tramatura, autor de A Casa das 100 Janelas, Relicário da Maldade, Alice em Silêncio... e colaborador da Casa de Tramas.
Comments