top of page

A Era da Ouro da Ficção Científica

  • Foto do escritor: Jefferson Sarmento
    Jefferson Sarmento
  • 10 de jul. de 2023
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 7 dias

Uma viagem pessoal (e editorial) ao coração da Era de Ouro da ficção científica

Científica Ficção

Vamos começar pelo começo e te contar por que estamos aqui. Sempre fui um apaixonado por histórias de ficção científica, embora raramente tenha me atrevido a escrever uma. Outro senão: comecei a consumir e devorar literatura muito cedo, acho que logo que aprendi a juntar palavras, mas foi através das séries e dos filmes que a ficção científica chegou a mim — essa última plataforma me apresentou ao gênero em O Incrível Homem que Derreteu, de 1977.


Assisti na televisão, claro, em algumas reprises. O filme pega emprestado o prefixo de “O Incríveu Homem que Enconlheu”, história de Richard Matheson adaptada para o cinema em 1957 e que conta como esse cara, num belo dia, começa a encolher, ficar menor e menor e menor, e agora precisa sobreviver em sua condição que o torna cada vez mais exposto ao perigo, de aranhas ao seu próprio gato de estimação.

cena do filme "O incrível homem que encolheu"
Cena de "O Incrível Homem que encolheu"

Já o outro homem, o que derreteu, conta a história desse astronauta que deu uma voltinha pelos anéis de Saturno e retorna à Terra como único sobrevivente de sua jornada. Ocorre que ele contraiu algum mal excêntrico e horripilante na viagem: seu corpo está derretendo e ele vai enlouquecendo e se tornando um assassino gosmento ao longo do filme. Eu amei e quase me acabei de nojo e horror daquele filme, mas toda vez que passava na televisão, eu queria ver de novo. E de novo. E até assisti outra vez esta semana, enquanto pensava no que escrever para abrir essa seleção da Tramatura.

Perdidos no espaço
"Perdidos no Espaço" - série original

Possivelmente eu assisti a séries scifi primeiro que assisti a filmes. Terra de Gigantes (de que eu tenho um box na estante), Jornada nas Estrelas, Perdidos no Espaço, O Túnel do Tempo, O Homem do Fundo do Mar , até mesmo alguns episódios mais fantasiosos de Viagem ao Fundo do Mar. Todos tinham uma carga de inventividade e aventura profundamente baseada em elementos de ficção científica. E todas elas, querendo ou não, beberam da criatividade de autores absurdamente visionários que se consolidaram escrevendo histórias curtas para as revistas pulp do gênero. Revistas que viraram uma febre a partir do final dos anos 1930.


A tal Era de Ouro de que falei lá em cima, dizem, foi até o final dos anos 1950, mas na verdade era um gênero relegado a segundo plano até mesmo nesse período, tanto que a crise de celulose daquele período dizimou justamente essas revistas (e as de terror) a partir de 1951, ano que marca o início do encolhimento do setor.

Capa da Amazing Stories de abril de 1926
Capa da Amazing Stories de abril de 1926

Contudo, esse encolhimento não significou (de jeito nenhum) que a criatividade das histórias estivesse em declínio também. O movimento iniciado timidamente pela Amazing Stories, em 1926, alcançaria velocidade de decolagem com a Astounding Science Fiction em 1936 — fundada, na verdade, em 1930, com o nome Astounding Stories of Super-Science — nome que você precisa guardar, por que foi com ela que a Era de Ouro teve seu ponto final e chegaremos a ele daqui a pouco. Nesse meio tempo, vieram a Air Wonder Stories (que só teve um ano de vida) e a Science Wonder Stories em 1929, Doc Savage (1933 a 1946), Wonder Stories (1930 a 1933 – depois reedidata a partir de 1957)…


Depois que a Astounding Science Fiction praticamente sedimentou a literatura pulp de ficção cientifica nos Estados Unidos, na segunda metade da década de 1930, o planeta praticamente inexplorado passou a receber mais e mais visitantes: Astonishing Stories (1940 a 1943), Captain Future (1940 a 1944), Dynamic Science Stories (1939), Fantastic Adventures (1939 a 1953), Fantasy Fiction (1950), Galaxy Science Fiction (1950 a 1958)… e outras dezenas de publicações que ganhavam bancas e livrarias na velocidade de uma nave interestelar.


Parte dos estudiosos do movimento literário da ficção científica, lá na terra do Tio Sam, crava o fim da Era de Ouro em 1950. Segundo eles, esse foi o ápice do crescimento, e até ali as histórias tinham um formato mais amplo ou épico. A partir da década de 1950, os temas começam a ficar mais escapistas, com autores buscando personagens menos heróicos ou jornadas mais turbulentas.

Capa da Astounding Stories
Capa da Astounding Stories

Na verdade, o que de fato ocorreu é que a década de 1940 viu o que o escritor Robert Silverberg (com uma vasta carreira no scifi, como autor e editor, figurinha fácil nas premiações do gênero por lá) chamou de uma “falsa aurora” . As revistas estavam em crescimento, mas estavam ali por conta de um grupo abnegado de autores e editores que queriam amparar o genero, independente do retorno financeiro que davam.


Foi a partir de 1950 que a quantidade de editoras de ficção científica realmente cresceu. E de títulos. Os horizontes se ampliaram velozmente e a grade de autores também. A qualidade dos texto passou a variar sem pudores, mas grandes histórias foram escritas também. Contudo, sem perder o foco citando uma e outra, o importante aqui é entender que 1950 não marcou de fato o fim da Era, mas uma evolução estrutural e comercial que acabaria com a mudança de nome da Astounding Stories of Super-Science para Analog Science Fiction and Fact, em 1960. Nesse ponto, o filão estava esgotado da forma como havia sido concebido, e uma lista monstruosa de revistas fechava sua quarta-capa pela última vez.

Mas é esse ínterim que nos importa e é disso que a gente devia estar falando de verdade: o que se produziu de ficção científica nessa tal Era de Ouro. Caras como Isaak Asimov surgiram para o mundo justamente nesse meio. E também John W. Campbell Jr, autor da história que deu origem ao filme Enigma do Outro Mundo e editor do melhor período da revista Astounding Science Fiction. Mais? Kurt Vonnegut e Ray Bradbury (que aparecem nas próximas páginas com os contos “2 B R O 2 B” e “Uma Pequena Jornada”, respectivamente), Arthur C. Clarke, Philip K. Dick, e uma lista enorme de outros escritores que imaginaram mundos, seres, crises, avanços tecnológicos, termos hoje usados até pela ciência, histórias maravilhosas!


E é por isso que estamos aqui: porque eu gostaria que você visitasse, comigo e com a Tramatura, algumas dessas histórias. Portanto preparamos esta edição com 8 contos que originalmente foram publicados em algumas dessas revistas e que, juro, vão surpreender você pela originalidade, pela inventividade e, porque não?, ingenuidade de uma Era que consolidou a ficção científica e refundou o sci moderno.


Boa leitura!


Página da coleção Científica Ficção
Visite a página da Científica Ficção para conhecer as edições já publicadas.
Jefferson Sarmento

Jefferson Sarmento é escritor e editor da Tramatura, autor do nosso novo lançamento: Terra de Almas Perdidas, mas também de A Casa das 100 Janelas, Relicário da Maldade, Alice em Silêncio... ... e colaborador da Casa de Tramas.

Posts recentes

Ver tudo

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
bottom of page