Caminhos para a leitura no Brasil
- Jefferson Sarmento
- 7 de mai.
- 4 min de leitura
Quatro caminhos possíveis para a leitura

Na primeira parte desta série (link aqui), falamos sobre um cenário preocupante: o Brasil está lendo menos. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil (2024), a porcentagem de leitores caiu de 52% para 47% desde a última edição, e a média de livros lidos por pessoa encolheu drasticamente. Mas tão importante quanto compreender a gravidade da situação é refletir: o que podemos fazer a respeito?
Neste segundo artigo, queremos propor ideias — algumas simples, outras ousadas — sobre como reacender o interesse pela leitura. Porque... se a leitura transforma o indivíduo, ela também pode transformar um país. E talvez o segredo esteja em combinar imaginação, infraestrutura e vontade política.
1. Bibliotecas vivas: espaços de encontro e descoberta

Em um país onde o livro ainda é um item de difícil acesso para grande parte da população, a biblioteca pode ser a porta de entrada para o mundo da leitura. Mas não qualquer biblioteca. Falo aqui de espaços vivos, modernos, aconchegantes, com acervo atualizado, que acolhem leitores de todas as idades com conforto, conectividade e diversidade.
Mais do que paredes cheias de estantes, precisamos de bibliotecas que funcionem como centros culturais. Que promovam rodas de leitura, oficinas literárias, clubes de leitores, visitas de autores, feiras de livros locais. Que sejam pontos de encontro da comunidade. Que despertem a curiosidade. Que façam da leitura uma experiência compartilhada e prazerosa — e não uma obrigação solitária.
Investir em bibliotecas é investir na democratização do conhecimento. Mas esse investimento precisa ser contínuo, planejado, e abraçado por escolas, governos, instituições e cidadãos.
2. Leitura nas escolas: integrar, não impor

O segundo passo é transformar a maneira como a leitura é abordada nas escolas. Ainda hoje, muitos estudantes associam o ato de ler a uma tarefa obrigatória, distante de suas realidades e interesses. Precisamos mudar essa lógica.
Que tal integrar a literatura aos conteúdos de outras disciplinas? Um romance histórico pode iluminar uma aula de História. Um conto de ficção científica pode abrir discussões em Ciências. Uma crônica pode servir de ponto de partida para reflexões em Geografia ou Sociologia. A literatura não precisa ficar restrita às aulas de Língua Portuguesa — ela pode dialogar com todo o currículo.
Além disso, clubes de leitura organizados por faixa etária ou interesse, dramatizações de trechos literários, feiras de livros com autores presentes, jogos interativos e oficinas criativas podem tornar a experiência da leitura muito mais atrativa.
E não só os alunos precisam estar envolvidos: professores, coordenadores, bibliotecários e até familiares devem participar da construção de um ambiente escolar que respire literatura. A leitura precisa ser cultivada como algo vivo, presente e transformador.
3. Tecnologia como aliada
A internet, muitas vezes apontada como vilã do hábito de leitura, pode se tornar uma grande aliada — desde que bem usada. Booktubers, podcasters literários, clubes de leitura online, perfis no Instagram e no TikTok voltados para livros já alcançam milhões de pessoas. Por que não estruturar um programa nacional que envolva esses influenciadores digitais para promover a leitura?

Parcerias com criadores de conteúdo podem gerar vídeos, podcasts, lives e desafios literários. Pode-se criar uma “feira do livro digital”, constante, com debates, entrevistas, leituras coletivas. Plataformas como Discord podem abrigar clubes de leitura com moderadores capacitados. Até microcontos ou resenhas postadas pelos leitores podem ser destacados, estimulando a participação ativa da comunidade.
Quanto mais formos capazes de ocupar o universo digital com conteúdos literários relevantes e envolventes, maior será a chance de reconectar os jovens — e os adultos também — com os livros.
4. Políticas públicas que enxerguem o livro como ferramenta de transformação
Nada disso será suficiente sem uma base sólida de políticas públicas. Precisamos de governos — em todas as esferas — que assumam o compromisso de transformar o Brasil em um país leitor. Isso significa investir na criação e manutenção de bibliotecas, especialmente em regiões periféricas e rurais; garantir a formação de professores e bibliotecários como mediadores de leitura; e fomentar leis que assegurem bibliotecas em todas as escolas públicas com acervo adequado.
Que tal um programa de vale-livro para famílias de baixa renda? Ou uma plataforma digital gratuita, acessível e atraente, que funcione como uma “Netflix de livros”? Que tal campanhas nacionais que envolvam autores, escolas, empresas, influencers, numa grande rede de incentivo à leitura?
A boa notícia é que algumas dessas propostas já existem — ao menos no papel. A Lei 14.837, sancionada em 2024, por exemplo, visa integrar e fortalecer as bibliotecas escolares em todo o país. O desafio é tirar essas ideias do papel e garantir que cheguem, de fato, às pessoas.

O futuro está nas páginas
O Brasil está lendo menos — mas não precisa continuar assim. Com criatividade, investimento e esforço coletivo, é possível reacender a paixão pelos livros. Porque ler não é só um prazer individual. É uma construção coletiva. Um exercício de cidadania. Um direito.
Ler amplia horizontes, desenvolve empatia, fortalece o pensamento crítico.
E em um país tão marcado por desigualdades, nada é mais revolucionário do que formar leitores.
Convidamos você para assistir ao vídeo sobre esse assunto no nosso canal, que amplia essa discussão e detalha ainda mais vários aspectos dessas propostas.
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