Nosso presente especial para você que se aventurou nas páginas da GH#2
e ficou curioso em conhecer o conto "Spear and fang",
a primeira história de Robert E. Howard publicada.
Pois bem, deleite-se com ela logo abaixo!
E depois nos mande suas impressões!
a LANÇA e a PRESA
de Robert E. Howard
Weird Tales, Julho de 1925
A-aea agachou-se perto da entrada da caverna, observando Ga-nor com olhos curiosos. A ocupação de Ga-nor a interessava, assim como o próprio Ga-nor. Quanto a Ga-nor, ele estava ocupado demais com seu trabalho para notá-la. Uma tocha presa em um nicho na parede iluminava fracamente a caverna espaçosa, e com sua luz Ga-nor dedicava-se laboriosamente a traçar figuras na parede. Com um pedaço de sílex, riscou o contorno e, usando um galho mergulhado em tinta ocre, completou a figura. O resultado foi uma evidência grosseira, mas incontestável, de um verdadeiro gênio artístico lutando por expressão.
Era um mamute que ele tentava retratar, e os olhos da pequena A-aea se arregalaram de espanto e admiração. Aquilo era maravilhoso! E daí se a besta desenhada não tinha uma perna e a cauda? Só os homens da tribo, lutando para sair da barbárie total, costumavam fazer aquele tipo de crítica — para eles, o que Ga-nor pintava não tinha nada de genial.
No entanto, não fora para assistir à reprodução de um mamute que A-aea se escondera entre os arbustos escassos perto da caverna de Ga-nor. A admiração pela pintura, na verdade, empalidecia diante do olhar de adoração que ela costumava lançar ao artista. De fato, Ga-nor não era de todo mal aos olhos. Ele era alto, com mais de um metro e oitenta, magro, com ombros poderosos e quadris estreitos, a constituição de um guerreiro. Suas mãos e pés eram longos e finos; e suas feições, destacadas pela luz bruxuleante da tocha, eram inteligentes, com uma testa alta e larga, encimada por uma juba de cabelos cor de areia.
A própria A-aea era bem vistosa. Seus cabelos, assim como seus olhos, eram pretos e caíam sobre seus ombros magros em uma onda selvagem. Nenhuma tatuagem ocre tingia sua bochecha, pois ela ainda não tinha companheiro.
Tanto a menina quanto o jovem eram espécimes perfeitos da grande raça Cro-Magnon que viera de ninguém sabia onde e anunciava e impunha sua supremacia sobre os animais e homens-fera.
A-aea olhou ao redor nervosamente. Todas as ideias em contrário, costumes e tabus eram muito mais estreitos e adotados vigorosamente entre povos selvagens. Quanto mais primitiva uma raça, mais intolerantes seus costumes. Vício e licenciosidade podiam ser a regra, mas a aparência de vício era evitada e condenada. Então, se A-aea tivesse sido descoberta ali, escondida perto da caverna de um jovem solteiro, seria denunciada como uma mulher desavergonhada, e levaria uma surra pública.
Para ser adequada, A-aea devia representar a modéstia e o recato de uma donzela, habilmente despertando o interesse do jovem artista sem parecer fazê-lo. Então, se o jovem estivesse satisfeito, teria seguido o cortejo público por meio de canções de amor grosseiras e música de flautas de junco. A seguir, viria a troca de presentes com seus pais e, só então... casamento. Essa parte poderia ser esquecida também, mas só se o pretendente fosse rico.
Mas a pequena A-aea era uma jovem à frente de seu tempo. Ela também já havia percebido que seus olhares furtivos não eram suficientes para atrair a atenção do jovem, que parecia sempre muito absorto em sua arte, então ela havia adotado aquela maneira nada convencional de espioná-lo, na esperança de descobrir como conquistá-lo.
Ga-nor finalmente concluiu seu trabalho. Espreguiçou-se e olhou em direção à entrada da caverna. Como um coelho assustado, a pequena A-aea abaixou-se e disparou para longe. Quando Ga-nor saiu da caverna, ficou intrigado ao ver uma pegada pequena e leve no solo macio do lado de fora da entrada.
A-aea caminhou afetadamente em direção à sua própria caverna, que ficava, como a maioria das outras, a certa distância da caverna de Ga-nor. Enquanto fazia aquele percurso, notou um grupo de guerreiros conversando animadamente em frente à caverna do chefe.
Uma mera garota não poderia se intrometer num conselho de homens, mas tal era a curiosidade de A-aea, que ela arriscou levar uma bronca, aproximando-se furtivamente. Ouviu as palavras “pegada” e “gur-na” (homem-macaco).
As pegadas de um gur-na haviam sido encontradas na floresta, não muito longe das cavernas.
“Gur-na” era uma palavra de ódio e horror para o povo das cavernas, pois as criaturas que os homens da tribo chamavam de “gur-na”, ou homens-macaco, eram monstros peludos de outras eras, os brutos e selvagens Neandertais. Mais temidos do que mamutes ou tigres, eles haviam governado as florestas até que os homens de Cro-Magnon chegaram, travando uma guerra selvagem contra eles. De grande poder e mente pequena, selvagens, bestiais e canibais, eles incutiam aversão e horror nos homens da tribo — um horror transmitido através dos tempos, em contos de ogros e goblins, de lobisomens e homens-fera.
Eles eram menos numerosos agora, mas mais astutos. Não mais corriam rugindo para a batalha — traiçoeiros e assustadores, eles se esgueiravam pelas florestas, aterrorizando todas as feras, alimentando em suas mentes brutas o ódio pelos homens que os haviam expulsado dos melhores campos de caça. E sempre os homens de Cro-Magnon os perseguiam e os massacravam, até que, taciturnos, eles finalmente se retiraram para bem longe nas florestas profundas. Contudo, era fato que o medo daquelas feras permanecia de algum modo habitando o coração dos homens da tribo, tanto que nenhuma mulher jamais se aventurava sozinha pela selva.
Às vezes as crianças iam, às vezes não voltavam; e os batedores encontravam apenas sinais de um banquete medonho, com rastros que não eram de animais, nem de homens. A seguir um grupo de caça saía e caçava o monstro. Às vezes ele lutava e era morto, e às vezes conseguia fugir, escapando para as profundezas da floresta, onde os Cro-Magnon não ousavam segui-lo. Certa vez, um grupo de caça ousou de imprudência impensada na caça e acabou perseguindo um gur-na em sua fuga para dentro da floresta profunda. Uma vez lá, em uma ravina escondida, onde galhos pendentes bloqueavam a luz do sol, vários neandertais os encontraram.
A partir de então ninguém mais entrou nas florestas.
•••
A-aea se virou, olhando para a selva. De algum lugar em suas profundezas espreitava o homem-fera, olhos de porco brilhando ódio astuto, malévolo, assustador.
Alguém cruzou seu caminho. Era Ka-nanu, o filho de um conselheiro do chefe.
Ela se afastou com um encolher de ombros. Não gostava de Ka-nanu, tinha medo dele. Ele a cortejava com um ar zombeteiro, como se fizesse isso apenas por diversão e pudesse usá-la quando bem quisesse, de toda e qualquer forma.
Ka-nanu a agarrou pelo pulso.
— Não precisa fugir, minha bela — disse ele. — Sou um escravo, seu, se quiser Ka-nanu.
— Me larga — ela respondeu. — Preciso ir até a fonte para pegar água.
— Então eu irei com você, minha lua de prazeres, para que nenhuma fera possa lhe fazer mal.
E ele a acompanhou, apesar dos protestos dela.
— Há um gur-na por aí — ele disse severamente. — É lícito para um homem acompanhar até mesmo uma donzela não acasalada, para sua proteção. E eu sou Ka-nanu — acrescentou, em um tom diferente. — Não é bom que resista muito a mim, ou eu lhe ensinarei obediência.
A-aea sabia um pouco da natureza implacável daquele homem. Muitas das garotas da tribo olhavam com deferência para Ka-nanu, pois ele era maior e mais alto até do que Ga-nor, e mais bonito de uma forma imprudente e cruel. Mas A-aea amava Ga-nor e tinha medo de Ka-nanu. Seu próprio medo dele a impedia de resistir muito às suas abordagens. Ga-nor era conhecido por ser gentil com as mulheres, embora desatento, enquanto Ka-nanu, numa mostra evolutiva e asquerosa dos machos da espécie, orgulhava-se de seu sucesso com elas, nunca usando de sua posição social de forma gentil.
A-aea descobriu que Ka-nanu era mais temível do que uma fera, pois na fonte, longe das cavernas, ele a agarrou pelos braços.
— A-aea — ele sussurrou —, meu pequeno antílope, finalmente te peguei. Você não vai escapar de mim agora.
Em vão ela lutou e implorou. Levantando-a em seus braços poderosos, ele caminhou para longe, em direção à floresta, enquanto ela lutava freneticamente para escapar, para dissuadi-lo a deixá-la ir.
— Não sou forte o bastante para impedir você — ela disse —, mas eu vou acusar você quando voltarmos para a tribo.
— Você nunca me acusará, pequeno antílope — ele disse, e ela leu outra intenção ainda mais sinistra em seu semblante cruel.
Ele a carregou para dentro da floresta e, no meio de uma clareira, parou, seu instinto de caçador de repente alerta.
Das árvores à frente deles surgiu um monstro hediondo, uma coisa peluda, disforme e assustadora.
O grito de A-aea ecoou pela floresta, enquanto a coisa avançava. Ka-nanu, de lábios brancos e horrorizado, largou A-aea no chão e mandou que ela corresse. Então, sacando a faca e o machado, ele avançou.
O homem de Neandertal saltou para a frente com pernas curtas e nodosas. Ele era coberto de pelos e suas feições eram mais horríveis que as de um macaco, exatamente por conta da aparência grotescamente humana nelas. Narinas planas e dilatadas, queixo recuado, presas, nenhuma testa, braços grandes e imensamente longos balançando em ombros inclinados e incrivelmente poderosos, o monstro parecia o próprio diabo para a garota aterrorizada. Sua cabeça simiesca mal chegava aos ombros de Ka-nanu, mas ele devia pesar mais que o guerreiro em quase cinquenta quilos.
Ele avançou como um búfalo atacando, e Ka-nanu o enfrentou corajosamente. Com o machado de sílex e a adaga de obsidiana, ele investiu e golpeou, mas o machado foi jogado para o lado como um brinquedo e o braço que segurava a faca foi partido em dois feito um pedaço de pau na mão disforme do Neandertal. A garota viu o filho do conselheiro ser erguido do chão e arremessado no ar para longe da clareira. Viu o monstro pular atrás dele e despedaçá-lo membro por membro.
Então o Neandertal voltou sua atenção para ela. Uma nova expressão surgiu em seus olhos hediondos enquanto ele se arrastava em sua direção, suas grandes mãos peludas horrivelmente manchadas de sangue, estendendo-se em sua direção.
Incapaz de fugir, tonta de horror e medo, A-aea foi agarrada pelo monstro, que a arrastou para si, olhando-a nos olhos. Jogou-a sobre o ombro e se afastou cambaleando por entre as árvores; e a garota, meio desmaiada, sabia que ele a estava levando para seu covil, onde nenhum homem ousaria vir resgatá-la.
•••
Ga-nor havia descido até a fonte para matar a sede. Distraidamente, notou as pegadas fracas de um casal que tinha vindo antes dele. Ainda sem alarme, notou que eles não haviam retornado.
Cada pegada tinha uma característica individual, ele sabia, e aquelas eram conhecidas. A do homem, ele sabia ser de Ka-nanu. A outra pegada era a mesma que estava em frente a sua caverna. Imaginou então de quem seria, ainda meio sem interesse, já que Ga-nor não se preocupava com muita coisa além de pintar seus quadros. Então, olhando pouco além da fonte, notou que as pegadas da garota cessavam, mas que as do homem pareciam se voltar para a selva. Estavam mais profundamente marcadas do que antes também. Portanto, Ka-nanu estava carregando a garota.
Ga-nor não era tolo. Ele sabia que não havia nenhum bom propósito para um homem carregar uma garota para a floresta. Além disso, se ela estivesse disposta a ir, ele não teria que carregá-la.
De repente, Ga-nor se sentiu inclinado a se intrometer em coisas que não lhe diziam respeito — outra marca de evolução da espécie. Outro homem, talvez, tivesse dado de ombros e seguido seu caminho, refletindo que não seria bom interferir com o filho de um conselheiro. Ga-nor, de fato, não era um homem que se interessasse por muitas coisas, mas uma vez que sua atenção era despertada, sentia-se tentado a levar a coisa até o fim. Além disso, embora não fosse reconhecido como um grande lutador, não temia homem algum.
Então, afrouxando o machado e a adaga em seu cinto, tensionou a lança entre os dedos e seguiu pela trilha.
•••
Avançando cada vez mais fundo na floresta, o Neandertal carregava a pequena A-aea.
Ao redor, a selva se expandia silenciosa e maligna — nenhum pássaro ou inseto ousava quebrar o silêncio. Através das copas das árvores gigantes, nenhuma luz do sol filtrava. Com passadas silenciosas, o Neandertal se apressava.
Bestas se esgueiravam para fora de seu caminho. A certa altura, uma grande píton deslisou pela mata em sua direção, mas o Neandertal desviou dela subindo nas árvores com uma velocidade surpreendente para alguém com sua massa gigantesca. Contudo, ele não se sentia em casa nas árvores, tanto quanto A-aea.
Uma ou duas vezes a garota vislumbrou outros monstros como seu captor. Ficou evidente para ela que já havia sido levada para além de todos os limites definidos pelos homens de sua tribo. Os outros homens de Neandertal evitavam os dois. Era óbvio, também, que eles viviam como bestas, unindo-se apenas contra algum inimigo comum e não por afinidade. Aí estava a razão do sucesso da guerra dos Cro-Magnons contra eles.
A fera carregou a garota para uma ravina e, a seguir, para uma caverna pequena, vagamente iluminada pela luz de fora. Ele a jogou rudemente no chão da caverna, onde ela ficou deitada, aterrorizada demais para se levantar.
O monstro a observava, parecia um demônio da floresta. Ele nem sequer tentava se comunicar com ela, como até um macaco teria feito. Os neandertais não tinham nenhuma forma de fala.
Ele ofereceu a ela algum tipo de carne — crua, é claro. Com a mente girando de horror, ela viu que era o braço de uma criança Cro-Magnon. Quando viu que ela não comeria, ele mesmo o devorou, rasgando a carne com suas grandes presas.
Depois disso, ele a agarrou com suas grandes mãos, machucando sua pele e carne macias. Correu dedos ásperos pelos cabelos da mulher e, quando viu que a estava ferindo, pareceu tomado por uma alegria perversa. Arrancou punhados de seus cabelos, parecendo desfrutar diabolicamente da tortura de sua bela cativa. A-aea cerrou os dentes e não gritou como fizera no início, e logo ele desistiu. Contudo, a vestimenta de pele de leopardo que ela usava parecia enfurecê-lo. O leopardo era seu inimigo hereditário. Ele então arrancou dela as roupas e rasgou tudo em pedaços.
•••
E enquanto isso, Ga-nor corria pela floresta. Movia-se exibindo no rosto uma terrível máscara de determinação, pois chegara à clareira sangrenta e havia encontrado lá as pegadas do monstro seguindo para longe.

•••
E na caverna na ravina o Neandertal mais uma vez se atirou na direção de A-aea.
Ela saltou para trás e ele mergulhou em sua direção. Estava encurralada agora, mas conseguiu escapulir por baixo do braço do agressor e saltar para longe. Contudo, ele ainda estava entre ela e a saída da caverna.
A menos que A-aea conseguisse passar por ele, ele a encurralaria e a agarraria. Ela então tentou um estratagema — fingiu pular para um lado. O Neandertal avançou com afinco naquela direção; e, ágil como um gato, ela pulou para o outro lado e conseguiu passar por ele, seguindo para fora, para a ravina.
Com um berro, ele se lançou atrás dela. Uma pedra rolou sob os pés de A-aea, fazendo-a escorregar e cair. Antes que pudesse se levantar, a mão abrutalhada da fera agarrava seu ombro. Enquanto ele a arrastava de volta para a caverna, ela gritava selvagemente, freneticamente, sem esperança de resgate, apenas o grito de uma mulher nas garras de um monstro.
Ga-nor ouviu o grito no instante em que saltava para dentro da ravina. Aproximou-se rapidamente da caverna, mas com cautela. Ao olhar para dentro, teve a impressão de estar encarando a fúria personificada. Na luz vaga da caverna, o grande Neandertal estava de pé, seus olhos de porco encarando odiosamente o inimigo ali fora — hediondo, coberto de pelos manchados de sangue, enquanto a seus pés, um corpo branco e macio contrastava com aquela monstruosidade feroz, os cabelos longos agarrados em sua mão manchada de sangue — ali estava A-aea.
O Neandertal berrou, largou a mulher cativa e atacou. Ga-nor o confrontou sem usar de força bruta, pois sabia que seu próprio poder era bem menor. Antes, saltou para trás e para fora da caverna. Sua lança se projetou e o monstro berrou enquanto a ponta rasgava seu braço. Saltando para trás novamente, o guerreiro puxou sua lança e se agachou. Novamente o Neandertal avançou e, novamente, o guerreiro saltou para longe e investiu, desta vez mirando o grande peito peludo. E então eles lutaram, velocidade e inteligência contra força bruta e selvageria.
Em dado momento, o monstro conseguiu alcançar Ga-nor, agarrando-o pelo ombro e o arremessando por metros. O Cro-Magnon caiu sobre um dos braços e sentiu aquele membro estalar quase inútil — pelo menos por um tempo. O Neandertal saltou atrás dele, mas Ga-nor se jogou para o lado e se levantou. Repetidamente sua lança tirava sangue da fera, mas isso parecia apenas enfurecer mais ainda o monstro.
Então, antes que o guerreiro percebesse, a parede da ravina estava às suas costas e ele ouviu A-aea gritar enquanto a terrível fera avançava. A lança foi arrancada de sua mão e ele estava nas garras de seu inimigo. Os grandes braços do monstro envolveram seu pescoço e ombros, as grandes presas buscaram sua garganta. Ga-nor enfiou o cotovelo sob o queixo recuado de seu inimigo e, com a mão livre, golpeou aquele rosto hediondo repetidas vezes; golpes que teriam derrubado um homem comum, mas que a besta nem percebia.
Ga-nor sentia a consciência se esvaindo. Aquele terrível abraço o estava esmagando, a ponto de quebrar seu pescoço. Por cima do ombro de seu inimigo, ele viu a garota se aproximando com uma grande pedra, e tentou avisá-la que recuasse.
Com grande esforço, ele estendeu uma das mãos sob o braço do monstro e encontrou seu machado. Contudo, estavam tão próximos um do outro que não conseguia sequer sacar a arma. O homem de Neandertal agora tentava quebrar seu inimigo ao meio, como alguém quebra um pedaço de pau. Mas uma coisa acontecia a cada vez que o monstro aumentava a força do aperto: o cotovelo de Ga-nor firmava-se mais sob o queixo do bruto, por conta da posição do abraço. Quanto mais o homem de Neandertal o comprimia, mais fundo o cotovelo se enfiava em sua garganta peluda. Não demorou para a fera perceber aquilo. Ele então jogou Ga-nor para longe. Ao fazê-lo, o guerreiro sacou seu machado e, golpeando com a fúria do desespero, cortou a cabeça do monstro.
Por um minuto, Ga-nor ficou cambaleando acima de seu inimigo, então sentiu uma forma suave em seus braços e viu um rosto bonito, próximo ao seu.
— Ga-nor! — A-aea sussurrou, e Ga-nor pegou a garota em seus braços.
— Eu lutei por você, eu ficarei com você — disse ele.
E foi assim que a garota que havia sido levada para as profundezas da floresta nos braços de um sequestrador voltou nos braços de um amante e um companheiro.